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Trindade

by Tiago Messias

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1.
A Mãe 01:45
"Eu te amo do fundo da profundidade da altura que minha alma pode alcançar; Eu amo você ao nível das necessidades diárias; Eu te amo livremente, como um homem gosta de ser; Eu te amo puramente, como eles amam os deuses; Eu te amo com a respiração, sorriso, lágrimas, de toda a minha vida; E, se Deus quiser, vou te amar mais ainda depois da morte." Não me lembro como a conheci; Mas jamais esquecerei quando a reconheci; Por quem foi, pelo que fez; Por quanto tempo esteve aqui; Pra que eu fosse um homem simples; Eis que mutações separaram a gênese; E, desde então, me tornei um herege; Clamando que não há igreja na selva; Deus está morto; Só cultuo uma deusa, que se preocupou tanto; A ponto de só cumprir o rito de passagem; Após minha saída daquele quarto; Mas uma mudança de planos não é o bastante pra romper o pacto; Agora, canonizada, me resguarda nessa via-sacra; Porém projeções astrais não acalentam; A desolação de quem clama por ti personificada; A gramática insiste a conjugar-te no pretérito perfeito; Tão irônico quando analisa-se os termos; Não aceito que os fins justifiquem os meios; A história insiste a apagar-te na mensuração do tempo; Tão trágico quando analisa-se o roteiro; Não aceito que seu nome não esteja destacado nos créditos; E ela queria um quarto no segundo andar; Pra ficar mais perto do céu; Hoje, ele é todo seu.
2.
O Pai 02:18
"Eu me lembro de quando era pequeno e amava ser seu filho; Muito sorvete, futebol; Achava você o homem mais forte do mundo." 8, 12, 16 horas numa fábrica; E buscava tempo pra me levar pra escola; E buscava forças pra nunca faltar nada; Com as próprias mãos construiu duas casas; Com a própria fé me ensinou a criar asas; E fazer o que quisesse; Desenho, música, informática; Desde que não precisasse; Viver o que viveu pra me dar essa chance; Pipa, bicicleta, pião, Corinthians; Doces, revistas, piscina; Traduzia Super Mario World num caderno; Estava ali, mesmo quando restava o Super Nintendo; "Se lembra disso?" Fusca vermelho, Honda azul; Grêmio, SESI, Lago Azul; "E quando você me disse que o dinheiro não importava, hm?" Ao contrário do Itaú; "Pois é, meu velho..." Caminhos se tornaram labirintos; E o que nos une é um elo perdido; Que nos fez vender a alma; Pro deus do crediário e o demônio na garrafa; Um numa caverna, outro numa taverna; Mãos estendidas, bocas entreabertas; Porém, hoje, compreendo os motivos; De cada erro, cada sacrifício; E por mais que o Google me dê tantas respostas; Sinto falta de te fazer perguntas idiotas; Ligar e pedir carona pra casa; Ambos falhamos, mas não importa; Meu melhor amigo na infância; Meu advogado na adolescência; Meu espelho invertido; Me enxergar em seu reflexo; É minha sentença; A porta fechada pra não incomodar; Hoje, se mantém aberta, esperando o que não voltará; Só queria agradecer por tudo, antes do coração parar; "Eu queria ter feito mais por você, eu queria ter mais tempo; Enfim... Que o vento esteja sempre a seu favor e o sol esteja sempre brilhando; Que os ventos do destino o levem para o alto para dançar com as estrelas."
3.
O Filho 02:38
"Sempre tive uma simpatia especial por suicidas; Acho que foram os livros que eu li quando era mais jovem, os filmes; Os meus heróis sempre se matavam no final; Mas, apesar de toda essa simpatia, nunca tive coragem de me matar; Sei lá, acho que eu sou meio covarde." Mais um palhaço estrelando uma peça de Dostoievsky; Entre altos e baixos, numa montanha sagrada de Jodorowsky; Refletindo nostalgia num espelho de Tarkovsky; Desejando que essa obra nunca tivesse passado de sinopse; À la Bukowski, me queimo em água, me afogo em chama; Na vila dos cães da cidade das sombras; Onde vivem os monstros, onde ninguém tem alma; Psicose, melancolia; Observando da janela do 13º Andar; O retorno do rei ao seu castelo de areia; Escrevendo poemas antes de pular; O ano em que meus pais saíram de férias; O primeiro ano do resto de nossas vidas; O ano em que meus pais saíram de férias; O primeiro ano do resto de nossas vidas; Nascer, crescer, sofrer, trabalhar, repetir; Círculos de sadismo; Sem um tostão, tal qual Tolstoi; A única certeza é que nada faz sentido; Cultivando desamores platônicos; Criando mitos; Mero símio; Transitando entre polegar opositor e dente canino; Substituindo A Arte Da Guerra pela Arte Do Pensamento Negativo; Números em cartas revelam o ínfimo; Rachaduras em paredes revelam o íntimo; Questionando Neruda, se a salvação da vida não seria a morte; Já que amor é abstrato como liberdade; E quanto mais penso, logo inexisto; Carta em descarte; O ano em que meus pais saíram de férias; O primeiro ano do resto de nossas vidas; O ano em que meus pais saíram de férias; O primeiro ano do resto de nossas vidas; A energia vital não precisa ser proporcional à fatalidade factual; Ajude-se, busque ajuda.

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Em memória de Ivani Aparecida Barreto Messias (21/12/1955 - 12/06/2006) e Nelson Aparecido Messias (15/10/1959 - 05/03/2016).

Visual: www.youtube.com/watch?v=QHsYfRmtxRo

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released July 25, 2017

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Tiago Messias Rio Claro, Brazil

Teoria das cordas e teclas. De 1988 a 808. ♪

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